quarta-feira, 8 de junho de 2011

Nutrição: Proteína, quanto botar no prato ?

Ela prolonga a saciedade e, daí, facilita o emagrecimento. Por outro lado, se consumida em excesso, pode elevar o risco de tumores e doenças cardiovasculares. Por isso, vale questionar até que ponto aumentar a porção

Duas pesquisas esquentam a discussão sobre incrementar ou não a oferta proteica ao cardápio. O primeiro, da Universidade Purdue, nos Estados Unidos, aponta o lado positivo dessa estratégia: a proteína, de fato, aumenta a saciedade e evita ataques à geladeira à noite. "A digestão desse nutriente é mais difícil e lenta. Então, ele passa mais tempo no estômago", diz a nutricionista Marina Romanini, da Universidade Federal de São Paulo.

No entanto, o nutriente não escapa de acusações. Outro trabalho, este da Universidade de Aberdeen, na Escócia, sugere que os fãs de menus hiperproteicos correm maior risco de câncer no intestino. É que os mais fanáticos pelo ingrediente muitas vezes deixam de lado carboidratos e vegetais. "Aí a dieta se torna mais rica em gordura e fornece menos vitaminas e minerais, abrindo espaço para diversas doenças", concorda a nutricionista Rosana Maria Cardoso, do Hospital Israelita Albert Einstein, na capital paulista.

Será que vale a pena, então, enfrentar esse risco com o intuito de emagrecer? Segundo os especialistas ouvidos por SAÚDE, a resposta é não.

O QUE REALMENTE DIMINUI A VONTADE DE COMER Há anos a proteína carrega a fama de ser um nutriente pró-emagrecimento. E o trabalho americano reforça esse status. "Na absorção das proteínas, ocorre um aumento no gasto de energia corporal, maior do que o provocado por carboidratos e gorduras", afirma Paula. Se o organismo trabalha a mais, também torra calorias. O segredo da dieta hiperproteica, contudo, está ligado à redução dos carboidratos, o que propicia uma queima dos estoques de gordura. "Sem o excesso deles, essas reservas são destruídas", diz a nutricionista Livia Yokomizo, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. "Além disso, a queima libera substâncias que atuam no sistema nervoso, aumentando a saciedade."

Apesar dessa vocação para promover sensação de barriga cheia, a dieta farta em proteína está saindo de moda. "Saciedade por saciedade, é preferível recorrer às fibras", dispara Marina. Essas substâncias fornecidas por frutas, verduras, legumes e cereais integrais também passam devagarinho pelo estômago e, mais do que isso, estabilizam o funcionamento do intestino, facilitando a tarefa de enxugar as medidas.

Os experts em nutrição acreditam que não é preciso exagerar em um único nutriente (proteína ou qualquer outro) para emagrecer — em curto prazo, isso pode até dar certo, mas cobra um preço e tanto da saúde. "A dieta rica em proteína se torna monótona e gordurosa, já que as pessoas apostam nas fontes animais, como a carne vermelha", exemplifica a nutricionista Mariana Exel, do Hospital Samaritano de São Paulo. "Com o passar do tempo, há uma maior probabilidade de doenças cardiovasculares, propiciadas pelo acúmulo de gordura nos vasos." Os rins também podem sofrer. "As proteínas são ricas em nitrogênio, composto que precisa ser eliminado pelos rins, que acabam sobrecarregados", justifica Marina.

Voltando ao risco de tumores, é bom esclarecer que a questão ainda é polêmica. "Não há provas de que o consumo maior de proteína em si aumente a ameaça. Mas existem evidências de que a ingestão excessiva de algumas de suas fontes — como carnes vermelhas e embutidos — contribui, sim, para a doença", diz Livia. "O que incrementa a possibilidade de o problema dar as caras é o desbalanceamento da dieta, com falta de carboidratos e fibras", enfatiza a nutricionista Mariana Del Bosco, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica.

QUANTA PROTEÍNA PÔR NO PRATO. E COMO COLOCÁ-LA Já deu para entender que abusar nunca é solução. Por outro lado, tampouco é proveitoso restringi-la na dieta. Sem proteína, a construção dos músculos, por exemplo, fica debilitada. Aliás, indivíduos acima de 60 anos precisam estar atentos à ingestão proteica. "Como eles perdem facilmente massa magra, devem consumir fontes do nutriente de melhor qualidade, e não necessariamente elevar a quantidade delas", diz a nutricionista Cristiane Castellar, do Hospital Quinta D’Or, no Rio de Janeiro.

Outra medida para qualquer idade é não investir só nos redutos gordos do ingrediente, caso da carne vermelha. Peixes, frango, queijos magros e leite desnatado também oferecem proteína, mas sem gordura de sobra. Entre os vegetais — sim, eles têm sua porção proteica —, aposte na soja e na dupla arroz e feijão. Leguminosas como a ervilha e a lentilha, além de castanhas e nozes, complementam as opções. "As fontes vegetais, combinadas, possuem valor nutricional equivalente ao da proteína animal, ainda considerada a melhor de todas", afirma Paula. Não há desculpas para errar na dose. Basta diversificar.

Para quem sua a camisa Quem pratica atividade física não precisa consumir quantidades muito maiores de proteína do que os sedentários — a menos que o indivíduo seja um verdadeiro atleta de resistência ou de força. Só nesses casos se deve consumir entre 1,2 e 1,8 grama do nutriente por quilo de peso. Afinal, a proteína é essencial para fornecer energia durante o esforço extra e garantir a reconstrução do tecido muscular.

15 g É a quantidade de proteínas do café e do lanche da manhã para quem pesa 60 quilos. Aposte, por exemplo, em torradas com requeijão, iogurte e castanhas

35 g O almoço é a hora de rechear o prato com o nutriente, que também deve entrar no lanche da tarde. Arroz com feijão, peixe, brócolis cozidos e salada verde compõem um bom pedido

10 g

À noite, falta pouco para alcançar a recomendação de ingestão diária do nutriente. Quer uma sugestão? Vá de sopa de ervilha com torradinhas

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